Campeãs de popularidade, personalidades fictícias da internet ganham espaço em campanhas de marcas e produtos
A história da propaganda brasileira está repleta de ícones nascidos dos comerciais de TV. Agora, um novo capítulo se consolida. A publicidade vem se apropriando das celebridades surgidas da internet em campanhas de marcas e produtos. São pessoas como a nutricionista atrapalhada Ruth Lemos (que repetia o final das palavras em uma entrevista feita para um telejornal e que foi parar no YouTube, gerando a pérola "sanduíche-íche-íche"), os bailarinos da Dança do Quadrado (popularizada pelo refrão-chiclete "Cada um no seu quadrado") e a veterana atriz Maria Alice Vergueiro, do curta Tapa na Pantera, outro vídeo campeão de views no YouTube. Além disso, as agências começam a criar personagens em ações online com cara de sucesso instantâneo da internet.
O sucesso do desabafo intitulado Rubinho (referindo-se ao piloto da F1) no YouTube rendeu sucesso instantâneo a um grupo de amigos de São Paulo. O protagonista do vídeo foi contratado pela Y&R para campanha de uma marca na agência. "Os ícones da internet são mais espontâneos", afirma o vice-presidente de estratégia digital da Y&R, Fernando Taralli. O filme alcançou 1,5 milhão de page views e chegou a incomodar Barrichello, que pediu para tirarem o vídeo do ar. Ele foi retirado, mas voltou a ser postado. "Não dá para controlar a veiculação na internet", emenda Taralli.
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Na história, o protagonista do vídeo fica descontrolado emocionalmente ao criticar o piloto em uma sátira baseada no inconformismo sobre seu desempenho nas corridas. "Esses vídeos que pretendem ser amadores fazem sucesso. A vantagem é que os ícones da internet têm seus seguidores e fãs", explica o executivo da Y&R. Desse modo, ele destaca a diferença entre os populares personagens da web e as celebridades da TV, caso dos participantes do Big Brother, que conseguem a atenção dos telespectadores e consumidores por conta da superexposição na mídia.
Um personagem que vem ganhando destaque é a suposta chocólatra Cláudia Cristina. Ela nasceu por conta de um blog, o Sai pra lá, criado pela Ogilvy para promover a marca Bis. Cláudia Cristina bola maneiras de esconder o chocolate para não ter de dividi-lo com ninguém. Entre as invenções da personagem, estão a saia-porta e a bolsa em formato de bueiro. Quando alguém pede um Bis, as roupas-ferramentas entram em ação.
Na ação promocional para a TV, no programa Pânico, os telespectadores são convidados a criar vídeos com dicas de esconderijos para o chocolate Bis. Os vídeos são enviados diretamente para o blog da personagem, e os melhores são exibidos no programa. O vencedor do concurso garante um ano de Bis grátis. "Vamos utilizar esse tipo de conteúdo sempre que houver identificação com a marca. Quem disser que existe uma fórmula, está errado. Não basta replicar essas ações. O mais importante é achar a linguagem adequada para o internauta", afirma o diretor geral da Ogilvy & Mather, Fernando Musa. A agência também está criando ação de conteúdo na internet para o Magazine Luiza.
Outro personagem fictício que desperta atenção é o repórter investigativo Alexandre Monteiro. No blog publicitário Meu Carro se Matou - Reze para o seu Carro não Virar Pauta, Alexandre Monteiro tenta encontrar pistas sobre a depressão de carros. "Carro deprimido se mata bebendo gasolina envenenada", afirma o jornalista. Alexandre Monteiro era um mistério, até que na semana passada veio a resposta sobre sua identidade. Trata-se de uma ação criada pela Salem para o Renault Sandero Stepway, veículo alinhado com o conceito de modernidade, diferenciação e interatividade na campanha "Um novo movimento urbano".
Em um dos vídeos do blog Meu Carro se Matou, um automóvel se joga do alto de um prédio de dez andares, outro entra na linha do trem para ser atropelado, e um terceiro invade um posto lacrado para se envenenar com gasolina adulterada.
A Salem criou ainda um segundo blog, o Cansei da Cidade, onde pessoas reclamam de problemas comuns aos moradores dos grandes centros. A solução para esses dilemas está no hot site do Sandero Stepway, com animação do carro em 3D. O blog traz lugares interessantes e divertidos de cidades brasileiras. "O Sandero Stepway é um modelo para público de espírito jovem, independente. A internet é um canal de informação fortemente presente no dia-a-dia desse público, um meio de comunicação que não pode ser ignorado ou temido", afirma a gerente de marketing da Renault do Brasil, Vanessa Castanho.
Para o sócio da colmeia, André Passamani, todo projeto de internet tem a missão de ser viral, ter efeito pólvora, para que consumidores enviem o conteúdo para amigos e colegas.
Transitoriedade
O sucesso instantâneo na internet não implica, contudo, credibilidade, segundo o blogueiro e analista de tendências da Fischer América, Carlos Merigo. "Muitas dessas celebridades conseguiram seus 15 minutos de fama, mas não têm credibilidade em mídias sociais. Tem credibilidade quem cria conteúdo de humor e entretenimento".
"O Diário de um Emo já teve seus 15 minutos de fama. Mas o sucesso desapareceu", afirma Merigo. O reconhecimento instantâneo - espontâneo ou planejado - tem alguns exemplos até na música brasileira. A cantora adolescente Mallu Magalhães, de apenas 16 anos, confirmada para a edição 2008 do festival Planeta Terra, lançou músicas no MySpace e conquistou a atenção de patrocinadores. As canções da intérprete teen estão no site patrocinado Hot Pocket Sadia.
No Brasil, a produtora Ioiô Filmes tenta repetir no celular o sucesso do curta Tapa na Pantera, um recorde de 5 milhões de acessos no YouTube. Desde a semana passada, o conteúdo está disponível em WAP para clientes das operadoras Amazonia Celular, Brasil Telecom, Claro, CTBC, Oi, Vivo, TIM, Sercontel e Nextel, na categoria de vídeos de humor.
E por falar em Maria Alice Vergueiro, ela também está na campanha de lançamento da operadora de telefonia celular Aeiou. A BigMan criou um comercial com fenômenos da web. Ela reuniu a estrela do Tapa na Pantera, a nutricionista do "sanduíche-íche-íche", a cantora do hit do YouTube Vai Tomar no Cu e os tais bailarinos da Dança do Quadrado.
Fonte: Meio e Mensagem
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