segunda-feira, março 23, 2015

Atualmente estou trabalhando num projeto de desenho de uma solução para um grande cliente. Depois de um processo intenso e exaustivo de estudo, passando por entrevistas que me marcaram bastante porque nos fazem nos aproximar cada vez mais do que é um ser humano, sua complexidade e lutas diárias, que foi mais um grande exercício de empatia. Começamos a enxergar no horizonte, soluções possíveis.

Ao longo deste processo de inovação -que é centrado no ser humano, me fez me aproximar mais da sensação de que podemos sim realmente sermos construtores de coisas, serviços, produtos ou de boas lembranças para as pessoas. Basta exercitarmos para entrar em sintonia com uma humanidade, respeito e objetividade, para realmente fazermos diferença nas vidas das pessoas. Não é/não está sendo um trabalho fácil, mas é recompensador ter este aspecto ao longo deste caminho de aprendizagem e solucionamento.
Pois bem, lendo este fim de semana o livro Design for Dasein: Understanding the Design of Experiences, me suscitou novamente diversas reflexões sobre a natureza construtora humana de que nós todos podemos ser criadores (e criativos) de alguma coisa, onde tudo começa com o 'estar com o outro'.
"...the conscious generation of empathy through design research methods and problem-framing is a conscious enactment of our being-with others. Empathy exists everywhere and at any time we demonstrate understanding for others.... through this care of designing, we come to know the world. Techne, or the craft/ hand-work in which designers take part, is both an act of making and an act of knowing. Being a designer involves the preservation of the connections between making, caring, knowing, and understanding."
Paralelamente a isso, relendo o livro da Carol Dweck, o Mindset, me ajudou a acalmar minhas expectativas e ansiedades sobre como navegar no caos, na incerteza de como refinar uma idéia para ela ser e se tornar tão importante para uma pessoa incorporar em seu dia-dia. Levando-me a pensar que mesmo quando não temos uma grande certeza de como será o seu final devemos continuar.
"...mesmo que você acredite que não sabe fazer bem determinada coisa, ainda assim, é possível mergulhar nela com empenho e perseverar. Na verdade, as vezes você se dedica a alguma coisa exatamente por não saber faze-la."
Ambas frases são complementares e falam de duas coisas distintas que se conectam: o fazer, e o como continuar fazendo.
A cisão 
Ao longo da Revolução Industrial, o ofício do artesão foi desmembrado fazendo com que cada um dos aspectos gerais de se desenvolver um objeto fosse dividido em várias etapas, criando uma cisão e um distanciamento - chegando até os dias atuais, do que é "enxergar o todo". De se ter um olhar sistêmico sobre fazer produtivo de um objeto, serviço ou até uma idéia. O exercício da empatia, o exercício do ouvir, o exercício do cuidar, o exercício do "making, caring, knowing, and understanding."ficaram prejudicados ao longo dos tempos, fazendo com que isto perdesse um pouco o seu peso e, profissões especialistas começassem a surgir. Hoje temos especialistas em tudo em todas as áreas.
Ou seja, nossa capacidade humana em olhar o todo ficou prejudicada com o início da industrialização porque não conseguimos olhar, ou considerar ao menos os impactos e em quais sistemas aquilo que estávamos criando se inseria. Tanto quanto como os objetos/serviços se relacionariam com as pessoas. E essa figura do artesão que conseguia ter uma visão, um ritmo próprio e controle de todo o seu processo produtivo, desenvolvendo seu método próprio em cima do seu todo (confeccionar o seu objeto) nos faz lembrar o quão ficamos reféns hoje em dia de aspectos além da nossa capacidade.
Talvez não fomos ensinados a olhar o todo (porque dá trabalho) antes de tomar decisões. Daí a importância de processos colaborativos que unem visões diversas para resolver problemas. Talvez não fomos ensinados a refletir substancialmente antes de decidir sobre nossas vidas pessoais ou profissionais. Daí a importância hoje em dia do filosofia e da psicologia para nos ajudar a entender origens e impactos. O imediatismo e o curto-prazismo nos foi vendido como maneira de decidir - porque sempre foi assim. Daí a importância de exercitar modelos de gestão que sejam mais duradouras como o branding, que nos permitem decidir pelos olhares dos valores e da identidade da empresa.
O designer é um conector
Tropecei novamente com esta frase no post da Alma: "Problem Setting —Sense Making — Problem Solving as necessary steps in a circular process of sustainable decision-making to avoid Innovation collapse." Que coroa um pouco o que quero dizer sobre criar algo realmente relevante hoje em dia: o pensamento sistêmico, somado ao pensamento do cuidar e da nossa busca por melhorar a maneira como nos conectamos socialmente.
Somos todos designers, porque todos podemos ser construtores. Basta exercitar mais o nosso olhar humano, inato a nós, inato a nossa capacidade biológica e reflexiva em "bring to life" nossas idéias através de nossas mãos, nossos ouvidos e nossa boca. Não reduzamos nossa maneira de sobreviver à apenas a criatividade de momento, mas exercitemos maneiras de melhor estabelecer qual problema realmente estamos resolvendoem como devemos resolver estes problemas, e quais métodos vamos usar para decidir, levando em conta consequências e impactos sociais.
Exercitar nossa cultura social é galgar construir sociedades melhores e mais conscientes de seu papel. Isso passa desde a forma como você conduz o seu próprio trabalho e resolve os problemas com fornecedores ou com colegas de trabalho. Passando por como você se posiciona na sociedade, em seu mercado e na sua vida.

Texto original publicado no Linkedin :) 
imagem: 
http://little-people.blogspot.com.br/

domingo, março 01, 2015

O conhecimento nos faz mais independentes do Estado?

Na The Economist vale ler dois artigos "A Belíndia empresarial brasileira" o qual mostra como o setor empresarial funciona em números absolutos tanto em pequenas, medias e grandes empresas. Percebe-se que a competitividade que tanto almejamos não começa só por incentivos fiscais e baixa tributação. É cultural, é o nepotismo e a capacidade de medição de resultados e aprimoramento do aprendizado.
Separo uma parte importante do artigo: 
"As empresas brasileiras enfrentam vários problemas: burocracia, regras tributárias complexas, infraestrutura precária e uma carência de trabalhadores especializados - para não falar da estagnação econômica. Mas uma grande razão para o desempenho inferior é menos considerada: a má administração. Desde 2004, John van Reenen, da London School of Economics, e seus colegas analisaram 11.200 empresas de médio porte em 34 países, classificando-as numa escala de cinco pontos baseada em quão bem elas monitoram suas operações, estabelecem metas e premiam o desempenho. A pontuação média das empresas brasileiras, de 2,7, é semelhante à da China e um pouco superior à da Índia. Mas o Brasil fica atrás do Chile (2,8) e do México (2,9). Os Estados Unidos lideram o grupo com 3,3. As melhores empresas brasileiras pontuaram tão bem como as melhores americanas, mas sua longa cauda de má administradas é maior.
...A pesquisa de Van Reenen mostra que onde proprietários familiares optam por diretores-presidentes de fora, suas empresas não se saem pior do que outras de tamanho similar com acionistas mais diversificados. Com muita frequência, porém, elas preferem parentes a gestores profissionais - e o desempenho sofre. Isso vale particularmente em sociedades de “baixa confiança” como o Brasil, onde os donos contratam parentes em vez de estranhos mais bem qualificados para evitar serem roubados ou processados por infringirem leis trabalhistas muito favoráveis aos trabalhadores
."

Curiosamente, em outro artigo da mesma revista um dado me chamou a atenção, a velocidade e a força do crescimento dos salários do setor publico foi bem maior do que os do privado. Isto mostra o quão grande nossos impostos tem peso, somado ao que ouvi ontem no Painel da Globo News "Hoje o Brasil é um país caro de se manter." Seria isso um indício do quão procuramos concursos públicos? E do quão é muito atrativo trabalhar numa empresa estatal e pro Estado?
Arrecada-se tanto do contribuinte, mas administra-se mal publicamente e no setor privado.