segunda-feira, abril 28, 2014

Marcas serão mais vulneráveis no futuro?

Desculpe a ausência estes longos dias. Aconteceram algumas viagens e algumas coisas que fizeram a gente se distanciar de escrever. Pois bem, o bom é que não parei de ler ao menos.

Atualmente lendo, relendo e pinçando páginas no livro muito interessante da Brene Brown, A Arte da Imperfeição (leia mais aqui), me deparei pensando questionamentos sobre o futuro do relacionamento das marcas e algum de nossos sentimentos mais comuns hoje.

A BUSCA PELA ACEITAÇÃO
Brene estudou durante mais de 3 anos sobre temas como vergonha, falhas, amor e coragem. Entre varias partes ela escreve isso:
"A raiz da palavra coragem é cor, a palavra em latim para coração. Em uma de suas formas mais antigas, a palavra coragem tinha uma definição muito diferente da que temos hoje. Coragem originalmente significava "falar o que se pensa abrindo o coração." Com o tempo essa definição mudou, e hoje, coragem é sinônimo de heroísmo. Heroismo é importante e certamente precisamos de heróis, mas acho que perdemos contato com a idéia de que falar honesta e abertamente sobre quem somos, o que sentimos e nossas experiências (Boas e ruins) é a definição de coragem. Coragem comum diz respeito a arriscar nossa vulnerabilidade." 
Isto me fez lembrar um comentário ontem assistindo Manhattan Connection (veja a parte mencionada aqui - a partir dos 7:00), cujo foi apresentado uma pesquisa feita pela Revista Time, sobre as pessoas mais influentes e admiradas hoje em dia, são em sua grande maioria artistas (27 pessoas), mais do que políticos e empresários (17 pessoas). Ou seja, as pessoas mais influentes são aquelas que tem o poder da opinião e são ouvidas pelo que elas são e produzem coisas "à sua cara" e seu poder de mudança. 


Então, ligado a uma época onde a vulnerabilidade, a arte, os bons exemplos, a transparência têm ganho maiores ares no debate social e nas mudanças de leis. Vide o marco civil. Fico pensando sobre o porquê adoramos justamente aqueles que nos fazem nos sentir bem, e nos inspiram (como artistas) e o quanto em nossas decisões e relacionamentos empresariais respeitamos estes porquês (compostos de valores e crenças) com nossos funcionários e acordos e vendas. Será aquilo que nos faz gostar daquele artista, conseguimos ver em nós, praticar com outros departamentos e lidar com nossos superiores?

Fiquei pensando que as marcas são/têm se tornado e sempre foram próteses psicológicas sobre nossa relação com o mundo. Por representarem projeções de extensões cerebrais e comportamentais aspiracionais que almejamos e buscamos resolver em nossas vidas. Mas o que me chama a atenção é. Para ser uma marca admirada não basta hoje mais contratar mega-celebridades para suas marcas e criar sua própria personalidade colada nelas, com testemunhais ou uso de seu poder de imagem, como o Vice-Presidente de Criação e Planejamento da NBS, André Lima, comentou na Veja desta semana: "O espectador hoje quer história. Famoso por si só não segura mais." Falando que as pessoas hoje em dia não estão mais interessadas no modelo testemunhal das propagandas, mas no modelo autodepreciativo dos garotos-propagandas que as marcas têm assumido. 

Pois bem, dito isso, fico pensando o quão as marcas, e por assim dizer, as pessoas, gerentes e funcionários que compõem e teoricamente pensam e vivem aquele propósito (quando por isso contratados), não se tem envergonha quando estão dentro da empresa e erram, ou se têm vontade de arriscar idéias. Será que o julgamento do "falar o que se pensa abrindo o coração" é possível hoje em dia? Se abrirmos para este tema, entraremos na capacidade de autonomia e Empowerment nas empresas hoje que deixo para outro post. Estamos vivendo a nossa verdade, ou a verdade vendida para nós?

A CULTURA
Brene nos entrega mais duas pérolas: 
"Quando praticamos compaixão, podemos esperar a experiencia do medo da nossa dor. A prática da compaixão é ousada. Ela envolve aprender a relaxar e nos permitirmos chegar perto daquilo que nos amedronta.";
"a aceitação é o cerne da compaixão. Quanto melhores formos em nos aceitar e aceitar os outros, mais compassivos nos tornamos. Bem, é difícil aceitar pessoas que esteja tirando vantagem de nós e nos magoando...se realmente desejamos praticar compaixão, temos que começar por estabelecer limites e responsabilizar as pessoas por seu comportamento."
Ambas são passagens que me fazem lembrar que a capacidade das empresas em se moldar ao que o mercado quer prejudica a própria identidade da marca. O próprio eu da marca.

Baseado nisso me fez pensar numa provocação ontem:  
"Muitas marcas tentam, insistem e procuram assumir uma face e uma relação e exposição mais humanas na mídia. Agora ser humana, é assumir traços de personalidades que são individuais, esquisitos, únicos e as vezes frágeis, como qualquer ser humano. Agora, as marcas estão dispostas a se assumirem autodepreciativas ou elas 'vendem' a autodepreciação apenas como traço social inclusivo?" 
E afirmo que ainda não tenho a resposta. Fico pensando se o que as marcas que querem fazer um atendimento humano estão criando uma ponte para se tornarem realmente mais próximas no desenvolvimento de produtos, serviços e experiências, ou só estão atendendo a uma exigência social atual.Ou seja, apenas o que se é esperado, afinal, são pessoas do outro lado.
  
Carisma é um argumento de vendas e Relacionamento. É importante, mas o que realmente entrega são nossos produtos, serviços e experiências. Então, ser autêntico hoje em dia, venho refletindo, é mais do que criar um universo (perfeito) à lá Facebook através da publicidade e assessoria, mas sim, se comportar em crises internas e públicas com humanidade, reconhecendo e gerenciando os erros (quando verdadeiros) aceitando-os. Mas também criar uma cultura de aceitação interna baseado em modelos de colaboração e performance com base em especificações individuais. Penso que só assim, podemos buscar a inovação constante como maneira de se tornar relevantes. Já que ela nascerá de pessoas que conseguem se pôr no lugar dos outros e trabalham por algo maior. A relevância hoje é a capacidade de se manter atual e antecipar exigências e vontades, dos mais diversos públicos ou do público-alvo querido. 

E O FUTURO SERÁ DA VULNERABILIDADE?
Marcas terão mais compaixão no futuro? Elas terão a partir do momento que se aceitarem mais. Se aceitar é saber que não são capazes de moldar a totalidade e assim buscar a colaboração e co-criação nas mais diversas camadas estratégicas. Praticar a compaixão passará pela capacidade de conviver com a vulnerabilidade e a gerência das recompensas e punições pós erro. 

Nosso heroísmo atual, poderá ser modificado pela nossa capacidade de criar sociedades melhor estabelecidas, cidadãs e respeitosas com nosso ecossistema (social, político e econômico), porque respeitaremos cada um como o é. Isto é a maior coragem hoje em dia. Por isso me pergunto se o uso de arquétipos ainda é/será necessário mais pra frente.

As marcas conseguirão ter permissão pra serem vulneráveis? Então, as marcas devem acreditar nelas mesmas para se sentirem mais valiosas. Parece o princípio básico do posicionamento, onde nos colocamos de uma maneira para sermos aceitos. Pensando desta maneira, talvez os próximos passos da evolução do branding serão marcas melhores posicionadas (respeitando-se não pelas suas competências nem pela sua essência apenas, mas pelo seu propósito) valorizando suas principais crenças, voltadas para quem elas são realmente e não como querem ser vistas. Marcas serão mais vulneráveis no futuro? Provavelmente serão e sua fase de criação de produtos será cada mais profunda. A inovação e criatividade nos impõem estarmos vulneráveis, então o futuro será cada vez mais incerto? Acredito que sim. 

Parafraseando o subtítulo do livro da Brene "abandone a pessoa que você acha que deve ser e seja você mesmo". Marcas devem parar de projetar pro mercado e acharem que só terão "valor" se se mostrarem e seguirem tais e tais passos, e depois reclamarem este "valor" através de uma transação comercial. Assim, penso que as marcas do futuro, não buscarão ajustamento e aprovação social, mas que isso não exclui elas de se promoverem. Mas sim, serão orientadas mais ainda pelo que ela é e não pela vontade do que elas querem ser. A coragem da imperfeição determinarão as marcas do futuro.


fonte: http://www.findyourbeauty.ca/2013/06/14/my-vulnerability-hangover/