sábado, maio 19, 2012

Nossa essência é sustentável?


Reflexão
Venho pensando já há algum tempo sobre meu desejo e missão profissional, coisa que perpassa pela minha busca (sou de Natal e voltei para São Paulo para trabalhar com Branding) pessoal e profissional. A conclusão que chego, deverá sempre mudar ou evoluir, sendo que no fundo o que quero oferecer às pessoas e empresas é "riqueza espiritual e riqueza financeira". Sobretudo é:  propor e realmente construir significados positivos nas vidas das pessoas, da relação empresa-sociedade-funcionário.


Empresas são feitas de pessoas. Essas pessoas seguem ordens para produzirem para o mercado. O mercado devolve em forma de competitividade. Como você deve devolver? Através de inovação. Contudo a inovação por si só sem uma verdadeira "verdade" não causará impacto hoje, mas médio-longo prazo fazendo quedas de preços, perca de competitividade, estresses de trabalho, demissões. Então, contrata um consultor que faz um resizing, dá um  gás, demite uma galera e põe no eixo novamente a empresa. Para depois - se não for bem planejado e estudo, voltar a fazer isso daqui a 10,15 anos? 

A percepção aqui que quero levantar é que "quando criamos uma cultura que valoriza bombeiros, estimulamos a criação de ateadores-de-fogo" (Edgar Schein). Aprendemos a valorizar na dor, no sofrimento etc. É o que ocorre na vida inteira das pessoas, mas será que não poderíamos criar um guideline, ou um "mais ou menos por aqui" coerente com quem nós somos para casar expectativas do mercado, fazer comunicação menos efêmera e fazer produtos e serviços estudados e criados para o usuário?

Resgate
O processo de branding é puramente o resgate (ou escavação) do real significado, muitas vezes escondido no fundo do inconsciente do fundador, do board, das pessoas que ajudaram a construir uma organização, e como Dov Seidman fala "A missão e o propósito estão enraizados em significado e em valores sustentáveis.", qualquer tipo de resgate vai passar por um sentimento (o motivo daquele estalo principal), do qual deu o clique na mente do fundador para criar a empresa e ser um empreendedor. Aquilo lá no fundo tem um componente humano que sempre estará na sociedade e nas vidas das pessoas. É sustentável e se tornou rentável tangibilizado nos produtos e serviços. Lembra-se da frase: "O olho do dono que engorda o boi?", é por aí.

Agora, o estalo em si pode ser uma oportunidade naquele momento do empreendedor, mas o que está por trás é que é importante. E é isso que muitas vezes nas empresas foi esquecido. Pressões do mercado, decisões oportunistas, regulamentações, dívidas, falta de foco, 'respostas ao mercado com produtos com baixa inovação', baixa rentabilidade para os acionistas, essas e inúmeras questões afastam as empresas (e pessoas) do seu core, da sua essência. As vezes não dá para ser puramente essência, podemos incorrer desvios - como no ser humanos, mas se tivermos gravado será mais fácil 'voltar das tentações mercadológicas' ou solucionar os problemas.

Voltando ao que andava pensando. Penso que o que eu quero mesmo é passar e ver lá na frente que ao mudar (ou resgatar) empresas e seus significados, consegui ressignificar a vida das pessoas. A minha preocupação é com o cara auxiliar do auxiliar, do gerente, do assistente, essas pessoas que muitas vezes não tem o poder da decisão dos decision makers, mas encontram forças para ir trabalhar todos os dias naquela empresa, pelos mais diversos motivos. Que muitas vezes se estressa no trabalho, desconta no filho que sei lá, o menino fica traumatizado...sabe. É loucura, mas é um ciclo de acontecimentos que se encadeiam, seja pelo trabalho, trânsito, dinheiro etc. Estas pessoas, como porquê não os decision makers, que podem estar sentindo falta de falar de pessoas quando se fala apenas em números. 

O que quero é mostrar para essas pessoas de forma imaginária ou não, é que a empresa que ela trabalha não é necessariamente "mais uma" (por mais que possam existir - e tem, no mercado), mas sim, incutir a mentalidade de que ele é parte de um projeto que lá na velhice ele possa dizer: "Puxa eu fiz isso, naquela empresa legal, com gente bacana." Este sentimento utópico passa pelo acreditar, pelo buy-in do Board, que precisa imergir e sentir que fazer parte de um mundo conectado, voltado ao usuário, responsável e social, não é discurso efêmero e de 'gente boa'. Política ganha-ganha-ganha, pode ser uma realidade. Por que não sentamos todos para fazer com que ganhemos todos muito dinheiro?

Nesta linha que surgem novos tipos de abordagens de pesquisa como as etnográficas, entrevistas contextuais, co-criação, prototipação entre tantas outras que buscam entender verdades, sejam em produtos ou serviços e porque não em culturas?! 

Ressurgimento
Quando fazemos projeções ao passado, desde as mais simples "ah, no passado era assim...", revisitamos sensações do passado que estão esquecidas e fazer isso puramente é um exercício para valorizar coisas do passado no presente - me abstendo de qualquer juízo de valor para essas lembranças, a gente volta ao passado. Parece história de regressão, mas é apenas uma das maneiras de entender a história da empresa.

Ao fazer essa reflexão aqueles que decidem projetam, lembram de histórias, de sensações, de acontecimentos, de comentários, de recomendações... etc que ajudaram criar aquela mini-startup se tornar a mega empresa hoje, enxergam que podem dar continuidade mais claramente quando confrontados coma realidade, àquele sonho. Muitas vezes observar isso é mais claramente em empresas familiares.

Enfim, o que quero de uma certa maneira levantar é que muitas vezes, entramos e saímos de lugares, quando as vezes sabemos apenas apertar aquele botão, sem saber o porquê de estarmos ali. Somos apenas movidos por: "Preciso pagar as contas", "estou endividado", "preciso fazer aquela viagem", não que estas sensações são ruins, são bons estimulantes, mas que exista algo mais profundo, de querer pertencer. Incutir a idéia de que caso a pessoa seja demitida, ela leve no seu 'pacote de percepções' além do "eu fiz o que estava ao meu alcance", também o "foi bom trabalhar naquela empresa". Essa gratificação é o reconhecimento de que você produziu coisas importantes ao lado de pessoas com compaixão, competentes e resilientes. 

Conclusão
Por isso que acredito muito em UX (user experience), design thinking, service design e branding, como disciplinas de estudo do usuário como instrumento de construção de novos usuários. Analisar, Idear e Prototipar o hoje para construir melhores betas amanhã. A evolução só surge quando revisitamos o presente, com experiências e conhecimento do passado, para projetar e executar futuros.

Assim, levar a riqueza espiritual e financeira (meio piegas né), passa por ao resgatar experiências, sensações do passado, possamos incutir no presente (e ao longo do aprendizado da empresa) melhores percepções condutoras de inovações, de produtos, de serviços ou pessoais/de superação. Porém, passando pelo ambientes de trabalho. 

"Ajudar empresas a se enxergarem para construir melhores futuros significativos, sociais e inovadores.", se fosse arriscar seria algo assim. Certamente isso vai mudar daqui a alguns anos, mas o conceito geral seria isso. No fundo é re-enxergar o que tem de melhor, que toda empresa tem, mas processos, mercado, rotina, ambiente pouco criativo, pobreza de líderes, impedem de chegar a este núcleo. Se chegar pelo menos a 20% do que penso, já sentirei realizado.

imagens: google images

Um comentário:

Bira disse...

Ola Paulo, reflexao profunda e muito pertinente. Senao vejamos as crises nas economias dos Estados Unidos e europa, sao crises de valores, na verdade o que eh que estamos buscando para nossas vidas?? Espero que a sociedade de maneira geral consiga identificar os verdadeiros lideres que ajude o individuo comum a encontrar sentido na sua vida.