Dona de umas imagens mais negativas entre os países do mundo atualmente, a China vai ter, a partir da próxima semana, uma grande oportunidade para tentar reverter este quadro e melhorar sua “marca” global. Segundo o consultor governamental britânico Simon Anholt, sediar Jogos Olímpicos é uma das melhores formas de mudar o modo como uma nação é vista pelo mundo.
“Um dos principais motivos que levam os países a lutarem para sediar uma edição dos Jogos Olímpicos é a visibilidade que ganham com isso”, disse, em entrevista ao G1, por telefone. Segundo ele, cidades como Barcelona e Sidney não eram tão conhecidas até sediar jogos, e se tornaram das mais populares do mundo.
O objetivo, explica, é ganhar visibilidade para divulgar o país como uma “marca”, que se torne popular e respeitada no exterior. Conquistar isso, segundo ele, facilita o desenvolvimento social e econômico do país, pois melhora sua posição nas negociações de política e comércio internacionais.
“Vivemos em um mundo globalizado, e muitos dos negócios internacionais são feitos em cima do que as pessoas pensam sobre um determinado país. As pessoas que negociam com a China não conhecem de fato o país, mas têm uma idéia formada sobre ele”, explicou Anholt, que criou, em 1998, o termo “nation branding” para esta imagem, algo como “marca de nação”.
China
Segundo ele, houve um rápido declínio da qualidade da imagem da China no resto do mundo, independentemente do crescimento econômico do país. Críticas sobre a política, a pressão sobre outros países, a baixa qualidade dos produtos que vêm de lá, tudo isso denigre a imagem que as pessoas do mundo têm da China.
“Normalmente pensamos que o crescimento econômico melhora a imagem de um país, mas isso não aconteceu com a China. Pequim tem a chance de melhorar sua imagem, se tudo der certo durante os jogos olímpicos, o que pode ter efeito positivo até sobre a imagem do país. Se alguma coisa der errado, entretanto, a imagem da China só tem a piorar”, disse.
A imagem negativa da China, entretanto, pode fazer com que a cobertura jornalística da imprensa internacional dê muita atenção aos temas polêmicos, o que pode não valorizar a marca de Pequim.
“Pequim dificilmente vai poder aproveitar tão bem quanto outras cidades, já que, por ser um país muito fechado, os jornalistas vão abordar este lado mais negativo do país, o que pode não ajudar a imagem da cidade”, disse.
Brasil
Enquanto a China cresce mesmo tendo uma má-reputação, o Brasil continua preso no subdesenvolvimento, “mas tem uma das melhores imagens de marca do mundo”, disse Anholt.
Segundo ele, o país e seu povo são muito bem vistos pelas pessoas de outras nações, mas a marca não é bem explorada, o que faz com que ela não tenha reflexos diretos na economia. Isso não quer dizer, segundo ele, que não haja potencial.
“Minhas pesquisas mostram que os brasileiros são adorados em todo o mundo. Estão sempre entre os 10 preferidos de todos os países, pois são vistos, de forma simplista, como pessoas divertidas e simpáticas”, disse Anholt. “Ter uma boa ‘marca’ é muito mais importante para países em desenvolvimento de que países ricos. A China é uma grande potencia econômica e geográfica, o que faz com que o país não dependa tanto da sua imagem internacional”, explicou.
Anholt diz, entretanto, que no longo prazo é importante que mesmo a China invista em sua imagem, pois ela pode começar a atrapalhar o desenvolvimento. “Se a China quiser continuar crescendo e se desenvolvendo, vai ter que mudar a forma como o mundo pensa o país, ou não vai conseguir manter o desenvolvimento, pois vai diminuir a vontade global de negociar com o país.”
Jogos Olímpicos
Segundo o consultor governamental, uma boa forma de o Brasil começar a capitalizar esta boa imagem, é copiando a atual fórmula chinesa de ganhar visibilidade.
“Seria maravilhoso se o Rio de Janeiro fosse sede de uma Olimpíada. Poucas cidades do mundo poderiam aproveitar tão bem esta oportunidade. As pessoas têm uma imagem positiva da cidade, mas muito cheia de clichês, e sediar os jogos valorizaria a marca da cidade e do país.
Para ter uma visibilidade mais rápida, diz, não adianta investir na conquista de recorde de medalhas nos jogos de Pequim, mas apostar em personagens carismáticos. “A briga por medalhas não é algo que tenha tanta influencia sobre a imagem global do país. A participação de atletas carismáticos costuma ter uma força maior de que a conquista do pódio. Eventos marcantes chamam mais a atenção de que a quantidade de medalhas.”
Fonte: G1
Comentário do Blog Abrandando
Existe um termo atualmente referente a esta "Marca" que cada país leva como percepção daquilo que ela é, em cada habitante, chama-se Place Branding. Este termo desenvolvido pelo consultor Anholt, é bem interessante porque nos mostra a capacidade que uma boa percepção pode levar e resultar tanto em transações comerciais quanto na nossa imagem quando estamos em outros países.
O Brasil sempre manteve graus altos em sua imagem, graças a ícones como Pelé, Senna, Tom Jobim, João Gilberto, Paulo Coelho (?), e em diversos campos até em publicidade, mas envolvendo geralmente esportes e cultura.
A rigor, "O Place Branding consiste em uma promessa pela qual a cidade ou território desejam ser conhecidos, porém ajudados pelo marketing como ferramenta para valorizar características emocionais e funcionais às quais as pessoas são sensíveis. Utilizando em especial o design como forma emocional.", explica Luis Borges, professor da Universidade Fernando Pessoa em Portudal, autor de Branding Territorial: uma abordagem mercadológica das cidades.
O Place Branding, atua sobre os clientes internos (cidadãos residentes, trabalhadores e empresas), quanto para clientes externos (turistas, visitantes de negócios, futuros investimentos etc). A idéia é criar uma fidelização a apartir do cliente interno para oferecer melhores resultados lá fora, em forma de competitivade.
Já que falamos em países, também podemos falar sobre cidades. Anholt pontua as 20 melhores "imagens de marca" que as cidades têm e em primeiro lugar está Sidney. Veja a lista abaixo.
“Australia is in a truly unique position – able to distinguish itself from cities such as London, Rome and Paris, which are often identified by historic landmarks and politics.
“Australia is young, fresh, and often the subject of intrigue being so far away from the rest of the world. It’s the place people fantasise about as having sun drenched beaches, friendly people, and great lifestyle – and all with an affordable price tag.”
Quando uma cidade tem uma boa conotação, tende a concentrar melhores investimentos, melhorias econômicas influenciando pessoas e o ambiente positivamente, tanto para quem mora quanto para o turismo. Criando num imaginário as melhores associações.
No entanto, como todo projeto é preciso de apoio e neste caso os governantes são o fator-chave para a melhoria da imagem do seu próprio país. E neste ano de eleições, precisamos escolher aqueles que queiram cuidar de sua cidade, realmente. Afinal somos um país hospitaleiro.
Enfim, pra finalizar vale aquela máxima: não basta ser tem que parecer. E aí,sua cidade é bem cuidada?
Mais: www.citybrandsindex.com
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