quarta-feira, setembro 17, 2014

Quem disse que ser autentico é bom?

Sabe, me deparei com alguns possíveis indícios - em minha interpretação, do que psicólogos e o Wally Olins falou, que estamos vivendo: uma crise de autenticidade. Pelas pessoas.

Existe já algum material aí disponível. Não vou me ater a uma opinião, mas o que quero é levantar são fragmentos de uma tentativas de interpretação social.

Então...
Estava eu navegando, esbarrei com algo a respeito de uma matéria na Veja com a Luciana Diniz, que reclamava de uma bolsa Chanel tinha estragado a roupa dela. Pois bem, a gente aprende muito sobre as pessoas lendo os comentários  nas matéria. E me chamaram a atenção dois comentários (e a repercussão deles abaixo). Estes:




Pois bem, sem entrar no mérito de estar certa ou não. Se é uma pessoas raivosa ou não. Ou "não entrou na zoeira". Ela levantou questões importantes sobre até que ponto criamos vínculos com um imaginário que nos cerca porque não aceitamos, nossa atual condição e nossa condição.

Depois me deparei com esta matéria chocante e escabrosa:
"A menina atribui à “inveja” dos selfies que posta no Facebook a ira da agressora:— Tirar fotos era meu passatempo, mas agora tenho vergonha do meu rosto e medo de despertar raiva nas pessoas."
"Num caso parecido em Florianópolis, além de dar socos e chutes em uma estudante de 13 anos, duas jovens cortaram o cabelo dela em frente à Escola Estadual Padre Anchieta, no bairro de Agronômica, no fim do mês passado. O vídeo da agressão circulou pelas redes sociais. Enquanto uma adolescente segurava o cabelo da vítima, outra fazia os cortes."
"— Muita gente fica rindo — relata a mãe, Edineia Demarco, para quem a agressão foi motivada pela beleza da menina. — Falaram que Ágatha andava de nariz empinado, mas isso é inveja. Por que mais teriam arranhado todo o rosto dela e cortado o cabelo?" 
"A insegurança típica do adolescente — sobre o próprio corpo e as relações sociais — ainda é um fator que intensifica a reação do indivíduo à inveja e pode levar o jovem a ter uma resposta agressiva à pressão para corresponder ao ideal de beleza. "  
Não vou pôr as inúmeras matérias que com assuntos parecidos. Nem as que tocam na espetacularização da violência -que gostam de tocar na ferida e coçá-la, mas vou refletir no porquê. Sem falar nos crimes bárbaros contra homossexuais que nas ruas têm acontecido.

Pois bem...
Essa modernidade líquida tem nos provocado que sensações afinal? Que condições elas têm nos impostos? Que novas pressões estamos vivendo para ser hoje em dia? Por que está difícil mostrar nossas qualidades? Por que está difícil tentar mostrar uma parte boa de nós? Será que a solução é se nivelar para sobreviver?

Se querer, isto me fez lembrar diretamente um filme sensacional com a exuberante Monica Belluci - Malena, cuja uma cidade inteira maltrata uma mulher pela sua excessiva beleza.




Situações diferentes? Certamente. Mas o que quero tocar é o porquê, não o que e o como. As brigas sempre existiram, mas os motivos ainda são os mesmos? A inveja sempre será a mesma? O que é a inveja? Ela está mais acentuada e exacerbada atualmente? A inveja é a incapacidade de sermos resilientes e reconhecer nossos erros e falhas e culpamos o outro? Não sei. Se beleza fosse condição de sucesso, Bill Gates ou Carlos Slim estariam fritos, sem falar no dono do Alibaba.

Desdobramentos...
Talvez hoje estejamos vivendo uma dificuldade em reconhecer nossas condições atuais -de sermos e sustentarmos quem nós realmente somos - seja financeiramente, sexualmente, socialmente ou ideologicamente. Bauman me ajudaria muito a tentar responder essas questões. 

Será que está difícil manter uma "autenticidade autêntica"porque o mundo toda hora muda? É o zeigsteist. Talvez tenhamos que cada vez mais construir uma autenticidade camuflada para sermos aceitos, ou seja, o "sermos legais com todo mundo" parece ser nossa condição de sobrevivência, mesmo que com pessoas erradas. É a condição da complexidade constante das nossas vidas. Vide a condição da política no Brasil como a "democracia de coalização" se reforça cada dia mais.  

O "liga o foda-se " vem parecendo ser uma saída para essas agruras. Para mostrar ao mundo nossos reais eus. Nossas verdades, com opiniões convictas e falhas. Mas será mesmo? O ser feliz é ser indiferente e alheio ou "fazer o que tem que ser feito"? Como também penso se o sentimento romântico do "Carpe Dien" ainda faz sentido quando o hoje está falsificado pela nossa busca incessante de aprovação e reconhecimento da sociedade. Cujo ao final do dia projetamos nossa felicidade em fotos pra provocar inveja ou termos mais likes. Até que ponto "viver o hoje intensamente" é verdadeiro com nós mesmos? Se nossa intolerância ao novo, ao diferente, ao melhor que nós está cada vez menor e inconsequente, onde ao final do dia postamos fotos provocando outras pessoas com "eu moro onde você passa férias" ou "Isso é pra você." ou "Que vida dura?!"? A real autenticidade em viver o Carpe Dien me parece diluída na nossa projeção da felicidade espontânea e instantânea, porquê esquecemos ou não nos foi ensinado como sermos ou buscamos a felicidade porque nunca pensamos sobre nós mesmos, nossos valores e nossos objetivos. Talvez seja mais um problema de motivação e re-valorização social. 

Suspeitas...
A resposta a isso talvez seja pela educação, que é o viés mais crível que sustento. Uma sociedade com mais educação reflete mais sobre sua religiosidade, felicidade, valores sociais, empatia e autoconsciência. Será que estas cenas encontraríamos em países como Escócia, Finlândia, Holanda? Talvez a inveja sempre haverá por fazer parte intrínseca de um incômodo humano, mas a ação provocada diante do sentimento da inveja seja diferente, creio. O debate filosófico entra em outro patamar. Quanto também imagino por uma melhor distribuição de renda. Porque acho difícil copiarmos o modelo do Butão de país mais feliz do mundo, mesmo lá as pessoas não tendo condições financeiras extremamente saudáveis.


Estamos mais intolerantes porque estamos menos empáticos. Estamos menos felizes porque nos doamos menos às pessoas, aos projetos e a nós mesmos, porque temos medo do "vai que". Parece que vivemos uma guerra constante em sufocar nossas crianças internas, nossas falhas, nossa feiura, nosso "estou pobre financeiramente hoje" e dando vazão ao "sorte a dele" ao "é tudo ladrão" ao "é tudo vagabunda" ou "tudo do mesmo saco". Hoje temos mais certezas porque optamos não pensar mais no outro.

Isto tudo me faz refletir o quão realmente estamos vivendo numa crise de autenticidade porque nós mesmos temos dificuldade em (con)viver com o que somos, porquê não aceitamos quem somos, porque os outros também não aceitam. Porque 'o certo' parece ser muito contextual e migratório. Onde isso vai parar? Ou em sociedades que buscam soluções e debates, ou em sociedades que se digladiam entre si.

Descobrirmos que somos não é se fechar em quem nós realmente somos hoje, mas em aceitar que somos passíveis de mudanças porque nosso eu é evolutivo. Nossa inconstância tá sendo tanto de opiniões quanto de atitudes. Podemos ter diferentes opiniões, mas a atitude em reconhecer a opinião (a condição social, a sexualidade, a ideologia e o outro) diferente vem sendo fragilizada pela nossa busca constante em representar alguma coisa para alguém em algum momento para no fundo, nos sentirmos melhores com nós mesmos.

Isso vai acabar? Acredito que não. Mas o debate certamente evoluiu quanto a sociedade evoluiu nos últimos 30 anos. Resquícios existirão? Sim, mas como lidar com aquela invejinha? Que tal se perguntar: Será que preciso ser como ela/ele? O que me provocou me sentir assim? Onde posso melhorar no meu próprio mundo? 

Assim...
Se estamos nos tornando uma "Geração de Instagramers" que só guarda boas memórias, para quem essas memórias estão sendo expostas? Para você se lembrar no futuro ou para apenas ganhar seu reconhecimento hoje? Sermos autêntico pre-escreve uma revisão de valores para criar condições de ações íntegras com nosso ser, mesmo que erremos. A resposta ao erro será baseada em nossos valores. Então: Quais valores estamos perpetuando em nossos contatos com os outros? Afinal "Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz." Ok, se o outro está melhor que nós, porque não pensarmos e usarmos nossas qualidades em busca dos nossos reais sonhos? Aí entra outro assunto: Qual o seu propósito? E por quê?

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