sexta-feira, junho 17, 2011

O Brasil depois do Brasil

Ouvi uma história curiosa (e verídica) esses dias: um empresário estava a caminho de uma entrevista e passou na frente de uma casa onde havia uma festa para a qual fora convidado. Virou-se para o diretor que o acompanhava e disse:

– Veja a quantidade de manobristas de carros na festa! Não vou mais falar com a jornalista, é muito mais importante eu estar nessa festa.
- Mas a jornalista está esperando, você pode se queimar, esse é um veículo muito importante .
- Veja a quantidade de manobristas de carros que há na festa. (Ele insistiu. Eram muitos mesmo.) Eu já aprendi que o indicador mais relevante da importância das pessoas que estão em um local é o número de manobristas.

Frisando que a jornalista preterida e trocada pelos manobristas não fui eu (se não, de duas uma: ou ele não desistiria da entrevista ou a história não chegava até mim rsrs), acho o caso exemplar de um Brasil que está passando, mas demorando a passar. Porque esse empresário não é velho –no máximo, de meia-idade– e faz um sucesso fenomenal. O talento para negócios lhe veio em doses cavalares. Mesmo com alguns dizendo que o carro será o cigarro de amanhã, o “DataManobristas”, de verdade, ainda importa DEMAIS.
A questão que quero lançar neste post, no entanto, é a seguinte: que Brasil virá depois do Brasil está passando? Qual o próximo Brasil após o Brasil-dos-manobristas?

Futuro se constrói no presente, todos sabemos, e foi só porque não temos há décadas (será que já tivemos?) um projeto de país que nosso presente virou um mero resultado “randômico” do passado. Primeiro, havia a desculpa da instabilidade para não tê-lo; depois, a da globalização galopante dos mercados financeiros. Sempre presente, a da não qualificação dos gestores públicos para elaborar esse “design”. Justa causa ou não, fato é que a estratégia de país ficou toda vida à deriva e agora, com economias emergentes em alta e cenário amplamente favorável apesar dos pesares, parece ter-se aberto a grande janela de oportunidade para uma estratégia nacional, algo que o Michael Porter diz ser fundamental a qualquer nação que almeje dignidade para seu povo.

Então, faço a pergunta à comunidade do Update or Die: como deve ser o próximo Brasil, na opinião de vocês? Vou copiar aqui, de modo superficial, um Brasil que eu particularmente adorei, desenhado pela agência Box 1824, a partir da pesquisa “O Sonho Brasileiro” (quantitativa e qualitativa) que eles fizeram com jovens de 18 a 24 anos, bancada por conta e risco e que acaba de sair do forno.

Há mais informações sobre a pesquisa aqui e aqui (selecionei, de propósito, dois dos vários vieses, um tico antagônicos, que ela pode proporcionar), porém, no meu viés updater, enfatizo que descobriram que, embora o maior sonho do jovem seja ter um emprego e casa própria, existe um número significativo do que denominaram “jovens-ponte” (8% da população, o que dá 2 milhões de indivíduos, 1 em cada grupo de 12). São jovens que participam de diferentes realidades e as conectam, fazendo com que umas influenciem outras, do gênero MV Bill.

Esse futuro adulto agregador, potencialmente o influenciador hegemônico em breve, veio ao encontro do que o pessoal da Box 1824 processou, como vocação do Brasil, em estudos semióticos da imagem do Brasil na mídia ao longo dos anos e em rodas de conversas com pensadores. Juntando tudo, surgiu o desenho deles do próximo Brasil, uma proposta de posicionamento de país como Michael Porter tanto cobra dos brasileiros quando conversa conosco na HSM:



BRASIL, O PAÍS-PONTE


Isso. O próximo Brasil em questão, aquele que combinaria com os jovens-ponte na visão da Box 1824, seria um país mediador e agregador no mundo – em quatro frentes, pelo menos:

• Superpotência da felicidade, baseada na “economia da festa” (a expressão foi utilizada pelo antropólogo Hermano Vianna), do tipo “o mundo trabalha na Ásia, pensa na Europa, ganha dinheiro nos Estados Unidos e se diverte no Brasil” – isso passa por transformar a diversidade, algo hoje passivo, em ativo, ou seja, em economia.

• Superpotência criativa, promovendo fusões entre a periferia e o centro, artesanal e o industrial, transformando nossa pobreza em riqueza e humanizando a tecnologia – o que passa por ressignificar positivamente o “jeitinho brasileiro” de improvisar, inclusive.

• Superpotência natural, um país tradutor da natureza para o mundo, o que dispensa maiores explicações diante da riqueza de recursos naturais do Brasil e do clamor global por sustentabilidade.

• Superpotência diplomática, virando um vetor de diálogo entre os povos (a partir do nosso mito fundador da miscigenação etc.), ativando um poder humano e relacional.

Não sei vocês, mas eu gostei de me ver nesse espelho. Talvez atenda a uma necessidade que vai bem além da pirâmide de Maslow para ficar perto de explicar o fenômeno Anonymous. E parece BEEEM melhor que o Brasil dos manobristas, que também são intermediários, entre o ser humano e o carro, mas sem a tal da ressignificação estratégica (bem, ao menos aquilo era uma economia da festa…rs).

E eu sei que o último manobrista que pegou meu carro em um restaurante (num almoço de updaters!) o devolveu amassado; só percebi quando cheguei em casa.

Este post foi copy/paste do updateordie

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