quinta-feira, maio 10, 2007

Branding + Design dá certo?

Branding e Design namoram, mas não casam

Design consolida-se como atividade integrada ao conjunto das práticas mercadológicas das empresas e dos negócios ao mesmo tempo em que está cada vez mais sem fronteiras. Esta reportagem especial faz uma abordagem histórica do segmento e mostra sua relação cada vez mais próxima com o branding.

Pyr Marcondes

O design brasileiro anda historicamente em busca de sua própria identidade e tem seguido, na maior parte do tempo e dos casos, a experiência e a inspiração das escolas e dos mercados internacionais. A começar pelo nome em inglês, para o qual não se tem — como no caso do marketing — tradução nativa de uso comum, design brasileiro, em verdade, ainda não é design brasileiro, como gostaria de ser. É uma tentativa.
Mas isso não é necessariamente ruim. Não é para tudo na vida que o Brasil tem que ter sua versão genuinamente nacional. Design não é cachaça, Macunaíma, nem samba. É atividade integrada ao conjunto das práticas mercadológicas das empresas e dos negócios e, portanto, algo cada vez mais sem fronteiras. Deixemos nosso sempre renitente nacionalismo para a bunda das mulatas e vamos cair sem culpa na farra da globalização. E, se der — e sempre dá, como veremos a seguir —, colocamos o nosso jeitinho faceiro para mostrar sua ginga na avenida da estética, dos produtos e das marcas.

O pensamento acima pressupõe que seria difícil, na folia mundial da gestão dos ativos intangíveis, o swoosh da Nike ter sido criado por um designer brasileiro. Não dava. Infelizmente, a dura realidade ainda está mais para a arvorezinha do Bradesco, a estrela da Varig e a comunicação corporativa da Natura, entre várias outras, terem sido desenhadas por escritórios internacionais.
Mas o mesmo raciocínio pressupõe também que é perfeitamente possível a lata do Leite Moça, da global suíça Nestlé, ter sido concebida aqui e internacionalmente premiada. Ou ainda profissionais brasileiros do setor fazerem parte de projetos com estratégia mundial, ganharem prêmios e levarem um 10 nos quesitos originalidade e inovação. “É nóis”!
Se eles vêm de tradição, nós vamos de mocidade.
Nesse balacobaco que é a evolução do design internacional, o Brasil vive também, como de resto o mundo, a tendência de a atividade deixar de ser uma bonequinha de luxo, tipo branquela atravessando o compasso, para ser a bateria de uma escola de samba em que a empresa é o morro, a Marca é o enredo e o branding é o diretor de harmonia — se me explico. Se não, vamos deixar o carnaval de lado. Fato: design e gestão de intangíveis, entre eles a Marca, tornam-se mais e mais uma coisa só. Puristas talvez nos saltem na jugular, mas aquela prática cujos princípios eram exclusivamente plásticos não cabe mais em um mercado fundamentalmente prático. E movido a resultados. E ainda, e cada vez mais, brand oriented, movido pelas marcas, seus atributos, valores, conceitos, estratégias, metas e, no final da linha, dividendos aos acionistas.

Não se perderam, que fique claro, os fundamentos da estética. São eles, e serão sempre, o espírito, a alma e parte do corpo do design em todos os tempos. Mas só bonitinho não dá mais. Só super-clean não dá mais. Só super-in não dá mais. Só pós-moderno virou pré-histórico.
Não é à toa que ao conversar hoje com gente que milita na profissão temos a clara percepção de que o design e os designers brasileiros andam se preocupando, mais e mais, em integrar-se aos princípios internacionais do branding e do planejamento estratégico das companhias.
E isso é bom.




Vamos casar?


O jogo de sedução está no ar. Branding de um lado, Design do outro. Namoro ou amizade?
“Não é namoro, é razão de existir. É um casamento renovado constantemente. Acredito piamente que a grande função do design é materializar uma estratégia previamente definida. Saber o que a marca quer ser, seus diferenciais, seus atributos funcionais e emocionais. Saber o que o consumidor espera de uma marca é fundamental para o trabalho de identidade. Aqui na Interbrand não somos apenas designers, temos que ser consultores de identidade de marca. No fundo, somos os responsáveis por dar vida às estratégias e torná-las relevantes para os públicos estratégicos da marca. Portanto, nada mais óbvio do que o design ser uma ferramenta estratégica de branding”, revela diretamente dos bastidores do caso de amor o diretor de criação da Interbrand no Brasil, Beto Guimarães de Almeida.
A Interbrand é um dos poucos exemplos internacionais e bem acabados em que o casamento, na intenção e na prática, vai às mil maravilhas. A empresa entende que o lado consultoria do branding é indispensável para que o lado mais aparente do design possa mostrar sua melhor face. E seu melhor resultado, tanto estético quanto estratégico.

“São atividades bastante complementares. A FutureBrand foca nessa colaboração”, conta Cesar Hirata, sócio-diretor da FutureBrand BC&H, empresa ligada ao grupo McCann/Interpublic, e onde, como no caso de sua concorrente Interbrand, consultoria e design caminham já de mãos dadas faz tempo. Para ele, “o design não é só parte integrante da estratégia mais geral da marca como, em alguns casos, chega a ser a própria estratégia da marca”.

Bill Martinez, sócio da MentalBrand e um dos pioneiros entre as empresas brasileiras de design a incorporar, já nos anos 90, os conceitos de consultoria de marca em seu escritório, define: “O tão falado branding, que pode ser entendido como uma ferramenta, metodologia ou abordagem de um determinado problema, é uma forma mais efetiva de geração de resultados mais consistentes e soluções com maior índice de assertividade. É um casamento que vai gerar muitos filhos”. E acrescenta um pouco de história: “Há mais de uma década, os valores intangíveis, diagnósticos de percepção da marca e branding passaram a ser incorporados, cada vez mais, como um produto em si dos escritórios e agências de design”.
Manoel Müller, sócio e diretor geral do escritório Müller & Camacho, além de presidente da Abedesign, entidade que congrega nacionalmente as empresas do setor no Brasil, entende que “o namoro vai bem; creio que os noivos ainda não decidiram data de casamento, mas há uma boa convivência e quem ganha com isso é o cliente, que potencializa as contribuições de cada tipo de serviço”.

Rico Lins, premiado e reconhecido designer, que trafega sem problemas entre os mundos do negócio e da arte, da consultoria à execução, vai também por aí: “Moram em casas separadas, mas estão cada vez mais sob o mesmo teto. Há uma grande aproximação para atender clientes locais, e parte do mercado de design incorpora ao branding também a consultoria de branding”.

A Sart/Dreamaker, que atende no Brasil inúmeras multinacionais na área de consultoria de design e, entre outros projetos internacionais, faz as embalagens de Hellmann’s para toda a América Latina, resolveu se emparceirar com uma consultoria internacional de marca, a BrandFinance, para poder oferecer ao mercado o pacote completo. Como conta Gian Franco Rocchiccioli, sócio e vice-presidente de planejamento da Sart/Dreamaker, “somos duas empresas com focos diferentes de atuação, que falam com seus clientes sobre marcas, mas não concorrem diretamente entre si. Na verdade, em vários momentos, nossos portfólios de serviço são complementares”.
Taí, um casamento de papel passado.

Patrícia Cataldi, do escritório Patrícia Cataldi Branding e Design (portanto, casamento assumido já na soleira da porta de entrada), que faz parte de uma rede internacional independente no setor, a IDP – International Design Partnership, não poderia pensar diferente: “As empresas de design que não têm um departamento de consultoria ou não se especializaram ainda em branding fazem parcerias com consultorias da área, embora essa seja mais uma realidade para empresas menores. As de médio e grande portes tendem a abraçar o projeto como um todo. Especializaram-se e incorporam consultores em suas estruturas. A tendência de haver uma fusão final entre design e branding é cada vez maior”. E finaliza: “Muitas das empresas do setor não querem mais ser percebidas como escritórios de design, mas como empresas estratégicas”.


Ainda não, amor. Não vamos nos precipitar.


Há, no entanto, quem veja que a união das partes ainda não chegou às vias de fato. É o caso de Fabio Mestriner, designer, professor e coordenador do núcleo de estudos da embalagem da ESPM e diretor do Comitê Técnico de Design da Associação Brasileira de Design (Abre): “É um namoro e ainda está nos primórdios. Os escritórios de design ainda têm muito a aprender sobre a relação entre sua atividade e o branding”.
Já Lincoln Seragini, outro nome que dispensa apresentações, tendo sido um dos pioneiros do setor no Brasil, acha que a relação até que está indo, mas não como deveria: “O relacionamento é crescente, mas a prática do verdadeiro branding ainda é restrita entre nós. O primeiro curso de pós-graduação da disciplina nasceu em 2003. Poucas empresas ou profissionais compreendem que Branding é uma nova filosofia de negócios e que exige treinamento especializado. Isso se aplica não só a muitos designers, mas também a profissionais de marketing, propaganda, comunicação corporativa e administração. O Branding não é um modismo, porém o seu uso indiscriminado está se banalizando”.
Outro que vai mais ou menos na mesma toada é Marco Aurélio Kato, diretor da Associação dos Designers Gráficos do Brasil (ADG). Veja só: “Ainda sentimos que as partes mantêm as experiências específicas de suas respectivas áreas e que poderiam se aproximar mais, em um processo evolutivo no qual o designer tenha mais experiências e familiaridade com o universo das consultorias empresariais e vice-versa”. E vai além: “Boa parte do mercado ainda oferece o branding como um discurso de venda, imaginando tratar-se apenas de um projeto de identidade visual mais complexo e amplo”.
Parte das dificuldades para que o processo se consolide e ganhe contornos mais bem definidos, como já ocorre com clareza nos Estados Unidos, Europa e Japão, não reside na percepção conceitual, mas nas limitações profissionais e de posicionamento das empresas, que desconhecem o tema — quer dizer, o tema mesmo, não suas versões. Como bem coloca César Hirata, “o que antes era intuitivo para o designer hoje é uma elaborada forma de comunicação de atributos e valores, que tem que ser compartilhada e conhecida por todos”. Mas há falta de formação qualificada. Como acrescenta Seragini, “tanto para os designers como para qualquer outro profissional que pretenda trabalhar seriamente na área de branding, serão absolutamente necessários um aprendizado e treinamento formais”.
Gian Franco complementa: “Por características culturais, os designers sempre se separaram do trabalho conceitual da estratégia. No entanto, com a evolução do mercado e a necessidade dos clientes, pode-se perceber o surgimento dos ‘designers-consultores’ — é como definimos esse profissional na Sart/Dreamaker —, um perfil moderno de profissional, capacitado a atender de maneira mais ampla as necessidades dos atuais clientes. Já existem no mercado designers capacitados, porém esse é um campo ainda em crescimento”.


Design, então, é estratégia de marca? Perguntinha, heim?

Dúvida existencial cuja resposta vale não só bons e novos negócios no mercado atual como toda a modernidade e o futuro do setor.
Começando pelo começo. A definição é de Beto Almeida, da Interbrand: “O design, apesar de ser também um espelho do nosso tempo, de nossa cultura e por isso andar em uma via paralela a outras formas de arte, é primordialmente um negócio; portanto, nasce a partir de uma estratégia”. Opa, foi bem.
Seragini dá uma pequena aula sobre o tema: “Fundamentalmente, o design é parte integrante da estratégia da marca. A marca, qualquer que seja, tem sempre três dimensões: CONCEITO, isto é, sua idéia inspiradora/essência e posicionamento; EXPRESSÕES, ou seja, nome, identidade visual, idéia e slogan publicitário, ambientes e experiências; e ESTRATÉGIA, que inclui a arquitetura e o portfólio da marca e suas extensões. Nesse contexto, design é a mais necessária das ferramentas para que uma marca possa existir”.
Newton Gama, do premiadíssimo (internacionalmente, inclusive) Gad Design, coloca exemplos práticos: “O design é elemento básico e fundamental na estratégia da marca. Hoje, temos exemplos como os da Apple e da Nike, que construíram sua identidade no mundo todo focadas em design de produto e comunicação. É impossível imaginar que alguma empresa atualmente possa dispensar essas disciplinas”.
Manoel Müller contribui: “Estratégia de marca é um dos maiores desafios na gestão das empresas modernas e por isso são muitos os especialistas de diferentes áreas que contribuem para entendê-la, criá-la e desenvolvê-la. Nesse contexto, a contribuição do design é substancial, pois cabe a ele tornar concreto e real os valores subjetivos e imaginários da marca”.
Rico Lins ajuda nas definições e dá uma cutucada na propaganda: “A visão de marca e a estratégia de design estão muito mais alinhadas ao branding do que a publicidade. Bom design, seja ele gráfico, de produto, eletrônico, de ambiente etc, é fundamental na estratégia de marca”.
Patrícia Cataldi pega o gancho e manda: “Design é parte totalmente integrante da estratégia de marca, pois é o maior responsável por sua imagem. A propaganda é uma ação pontual, o bom design perdura décadas”.
O design brasileiro, assim, evolui e arranca aplausos: de empresas, festivais e júris, internacionalmente.
Mas talvez ainda seja cedo para dizer que os passos definitivos para um casamento sem volta com o branding já tenham sido dados.
O namoro está firme. Todos torcendo para virar compromisso sério, de aliança, véu e grinalda.



Design e Empresas: em que estágio está a sua?

Quem deu a dica foi o prestativo Juan Saavedra, jornalista especializado, editor e coordenador de conteúdo do Portal DesignBrasil: “Em suas pesquisas, uma ex-colaboradora do Centro de Design Paraná e colunista do DesignBrasil, Gisele Raulik, mestre em design pela Brunnel University, descobriu que o Centro de Design da Dinamarca estabeleceu uma escala para classificar o envolvimento das empresas com design. O método faz analogia a uma escada com quatro degraus”.
É bem interessante. Em que estágio andam as empresas no Brasil? Você desenha.



A escada do Centro de Design da Dinamarca

1. Nenhum uso de Design Empresas que se encontram neste primeiro degrau não fazem uso do design em nenhum estágio do processo. Outras disciplinas acumulam a função de introduzir funcionalidade ou estética ao desenvolvimento dos produtos ou serviços.

2. Design como Estilo — O design é introduzido em um estágio já avançado do projeto como no acabamento ou detalhe gráfico.

3. Design como Processo O design não é usado apenas como produto final, mas como um método de trabalho. É integrado nos estágios iniciais do processo, combinando-se com as várias disciplinas envolvidas.

4. Design como Estratégia Utilizado, por exemplo, como uma ferramenta de fomento à inovação no ambiente de trabalho. No degrau mais alto da escada, o design é incorporado como um elemento-chave na empresa e, portanto, também no processo de desenvolvimento dos serviços e produtos.

É o próprio Saavedra quem complementa: “O ideal é que uma empresa veja o design como estratégia — completamente integrado às suas esferas de decisão — e não apenas como uma ferramenta para dar ao produto ou marca uma forma mais ‘bonitinha’”. Entretanto, na visão do superintendente do Centro de Design Paraná, Geraldo Pougy, são poucas as empresas brasileiras que chegaram a esse estágio, ou seja, ao quarto degrau da escada.
Uma pena, não é Juan?
Bill Martinez complementa: “Os clientes mais bem posicionados e antenados com as necessidades do mercado, seu público e valor de sua marca entendem bem a importância da consultoria, do diagnóstico e da avaliação de marca como parte do processo. São geralmente clientes de médio a grande porte. Os que não entendem essa nova configuração são players fora do baralho”.



Design made in Brazil 1: o fomento do Estado

Uma vez mais, crédito à contribuição de Juan Saavedra, do Portal DesignBrasil

O Portal DesignBrasil foi lançado oficialmente no dia 13 de dezembro de 2004. É resultado de uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) — através do Programa Brasileiro do Design, em conjunto com o Senai e o Sebrae. O objetivo do portal é integrar a comunidade do design nacional, promover a convergência e a cooperação entre as diversas ações na área em todo o País, públicas ou privadas. De acordo com Fernanda Bocorny Messias, coordenadora do Programa Brasileiro do Design, o DesignBrasil é uma ferramenta estratégica de planejamento para a inserção do design como diferencial competitivo no setor produtivo nacional. No portal, por exemplo, profissionais de design têm a oportunidade de cadastrar os dados de seus escritórios no banco de profissionais, que pode ser acessado por empresários interessados em contratar serviços de design.
Contratado pelo MDIC, Sebrae e Senai, o Centro de Design Paraná coordenou o processo de criação e implantação do projeto e é hoje o responsável pela sua manutenção. O Centro de Design é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), com sede em Curitiba, que visa contribuir para o desenvolvimento sustentável e para a excelência da indústria brasileira por meio da pesquisa e disseminação do design e de novos conhecimentos.
Um projeto que vale a pena conhecer. Abra o browser e visite www.designbrasil.org.br. Ações assim, fomentadas pelo Estado em parceria com a iniciativa privada, infelizmente são raras no Brasil.
Outro bom exemplo, lembra Fabio Mestriner, do Comitê de Design da Abre, é o convênio firmado com o Sebrae “para desenhar embalagens para a pequena empresa. Os projetos estão sendo quantificados e aumentos de 50%, 300% e até 500% em resultados têm sido verificados após a adoção da nova embalagem”.



Design made in Brazil 2: mais fomento, oba!

Em junho de 2006, a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Associação Brasileira de Empresas de Design (Abedesign) assinaram um convênio de cooperação técnica e financeira. Dessa parceria foi criado o Brasign (The Brazilian Appeal in Design), um programa que tem como objetivo valorizar e promover a exportação dos serviços brasileiros de design para todo o mundo. O projeto conta com um investimento total de US$ 1 milhão.
Como explica Manoel Müller, Presidente da Abedesign: “Várias atividades de promoção já resultaram dessa parceria, como a visita de uma comitiva de jornalistas estrangeiros especializados em design — e que classificaram nosso design como world class —, a participação em feiras internacionais como a Luxe PAC, na França, em outubro do ano passado, e a presença do design brasileiro em missões comerciais”. Essas atividades já estão incrementando a exportação do design nacional. A expectativa é atingirmos US$ 3 milhões em divisas até o fim deste ano. Entretanto, mais importante do que o número é o fator de multiplicação que o design gera na economia. Estima-se que 1 dólar investido em design se transforma em 100 dólares na cadeia produtiva.



Design made in Brazil 3: o (belo) papel da iniciativa privada brasileira lá fora

Yes, nós temos Design! Ainda são raras as contribuições de escritórios e profissionais brasileiros para o mercado internacional de design. Na maior parte das vezes, é ao contrário: produtos, embalagens, estratégias de gestão de marca e branding são mesmo desenvolvidos lá fora. Cabe ao País adaptar, fazer releituras, nacionalizações, por aí afora. Coisa de tupiniquim.
Mas já há notáveis exemplos na rota oposta. Vamos a alguns (só alguns) deles.
Começando pelo Gad Design. Veja a história de Newton Gama, diretor geral da empresa: “Participei do processo de internacionalização dos projetos de design da Whirlpool para a América Latina. Durante 26 anos estive à frente do desenvolvimento dos produtos Consul e Brastemp e, a partir de 1998, a Whirlpool passou a convidar o nosso grupo de design do Brasil para executar projetos para diversas partes do mundo: refrigeradores e lavadoras para a Índia, lavadoras para a China, fogão para o México, refrigeradores compactos para os Estados Unidos, fogão e refrigerador para a Europa, etc”, recorda ele. E ressalta: “Acredito que essa seja uma prova de que existe, sim, competência no Brasil para o atendimento de projetos para qualquer parte do mundo”.
Newton comenta ainda que esse mesmo movimento ocorreu em empresas como Electrolux, Volkswagen e GM, entre outras.
Beto Almeida, da Interbrand, confirma a impressão de Newton sobre o talento do designer brasileiro: “Temos em nossa companhia designers brasileiros trabalhando nas unidades dos EUA e da Espanha. Já tivemos também em vários outros países. A capacidade de adaptação do design brasileiro é incrível”.
Juan Saavedra, do portal DesignBrasil, acrescenta que “há importantes centros de desenvolvimento de design no País mesmo de grandes indústrias de origem estrangeira. É o caso da Volkswagen, com sua unidade de Design & Package, sediada em São Paulo e responsável por criar carros de sucesso no mercado, como o Fox. Outro exemplo é a sueca Electrolux, que mantém em Curitiba um de seus principais centros de design no mundo”.
Lincoln Seragini vai aumentando a lista e lembra que “muitas marcas de produtos de multinacionais são desenhadas aqui, como as de Kuat, Nescau, Leite Moça, Omo e Sundown”.
Como já citamos, a Sart/Dreamaker, de Gian Franco Rocchiccioli, desenvolve hoje as embalagens de Hellmann’s para toda a América Latina.
Da mesma forma, as embalagens para todo o mundo dos Sucos Del Valle, empresa mexicana recém-comprada pela Coca-Cola, são criadas e desenvolvidas no Brasil — pelo menos eram antes da aquisição.
Seragini diz também que o País tem se saído muito bem, com alguma freqüência, no iF Design Award, a mais importante premiação mundial do setor. “Já recebemos mais de 80 prêmios”, conta. Entre os mais recentes estão os do Gad Design, que em 2005 e 2006 faturou dois. O Gad foi premiado também no WorldStar Packaging Award, oscar mundial para design de embalagens.



Formação ou má formação?

As informações abaixo foram colhidas na internet e são de difícil comprovação. O setor de design no Brasil, em que pese o recente esforço das entidades da área em mudar o quadro, não possui estatísticas consolidadas e confiáveis sobre seu próprio negócio. Portanto, leitor, leia com um pé atrás. Enfim, consta que existem hoje no País mais de 60 faculdades que oferecem algum curso ligado ao design (em muitos casos, ainda chamado de desenho industrial). Estima-se que haja no Brasil mais de 30 mil designers com diploma, mas, ao que tudo indica, o padrão médio dessa formação superior está ainda bastante abaixo do desejável. Se somarmos os diletantes e amadores, que por possuírem um computador e um programa julgam-se designers, a estimativa aponta para cerca de 50 mil pessoas praticando a atividade de alguma forma no País. Muitos dos professores que ministram cursos na área não têm qualquer formação didática. Outros nunca trabalharam em nenhum estúdio de design.
Talvez não seja tudo isso e é possível que o cenário não seja tão negro, mas que a formação superior na área ainda é bastante carente, disso ninguém discorda.



Bienal Brasileira de Design

Tardiamente, talvez — mas antes tarde do que nunca —, apenas no ano passado o País realizou sua 1a Bienal Brasileira de Design, no espaço Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. O evento teve como curador geral Fabio Magalhães, ex-diretor geral do Masp. Durante a Bienal foi realizada a Mostra de Design, um conjunto de exposições com cerca de 600 peças de design de produto e de comunicação, buscando formar um conjunto da produção nacional na área. A mostra não conseguiu sensibilizar o público em geral, mas foi a primeira.
Como destacou à época seu curador, “a Bienal pretende transformar-se em fórum privilegiado de conhecimento e de debates, envolvendo não apenas designers e empresários, mas toda a sociedade, para que ela seja cada vez mais consciente e crítica diante dos objetos que consome”.
Somos a favor.



Os clássicos

O Brasil também tem seus clássicos do design. Peças e pessoas. Não é certamente o melhor portfólio do mundo, mas vale como curiosidade e cultura geral.
Um dos patronos do setor é Santos Dumont. Afinal, o cara desenhou e fez voar o mais pesado que o ar, seu 14 Bis.

Talvez seja por isso que nossa tradição seja considerável no design de aeronaves, levada adiante hoje muito bem pela Embraer — a empresa tem representatividade internacional na aviação de porte médio. Um dos nossos clássicos no segmento é o Bandeirantes.

Somos ainda reconhecidos internacionalmente, de alguma forma, também no design de jóias e móveis. Neste último, um clássico é o modelo de poltrona conhecido por Mole, do pioneiro Sergio Rodrigues.

Aliás, falando de pioneiros, alguns nomes importantes do design nacional são, além de Sergio, John Graz, Warchavchik, Lasar Segall, Flávio de Carvalho, Lívio Levi, Geraldo de Barros, José Zanini, Michel Arnauld, Lucio Costa, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Alexander Wollner, os irmãos Campana, Cauduro, Lincoln Seragini, entre outros.
Em design de carros, temos também alguns curiosos exemplos históricos, como o do Uirapuru, de Rigoberto Soler Gisbert, de 1964, para a Brasinca; o Puma, de Rino Malzoni, da década de 70, para a Puma; o SP2, de Marcio Piancastelli, de 1972, para a Volkswagen; a Brasília, do mesmo Marcio Piancastelli, de 1973, igualmente para a VW; e, entre outros, o Gurgel, do próprio João Carlos Conrado do Amaral Gurgel, para sua empresa, a Gurgel Motores S/A.

fonte: Revista da Criação/Meio e Mensagem

Um comentário:

Marcos Vale disse...

Ótimo artigo e comentários pertinentes a respeito dessa integração importantíssima de Design e Branding.

Abs!