sexta-feira, setembro 06, 2013

A identidade é construída no suportar da nossa ambivalência

Terminando de ler o livro Identidade de Zygmunt Bauman (que estava há 1 ano a espera na estante) e me pego pensando o quanto é difícil nos entendermos diante de um mundo com tantos estímulos e com tantos convites a nos juntarmos a tribos. Sejam tribos temáticas, ideológicas ou comportamentais. Seja por amigos, pela mídia, pela comunicação ou mesmo criados pela nossa cabeça. Somos vários e somos um, mas optamos por ser vários. Por quê? Quantos vários cabem em nosso um?

Todos em busca no fundo, de uma aceitação, de uma busca ambivalente de ser entendido e construir um relacionamento, mas ao mesmo tempo uma vontade de ser e ter um pensamento independente. Vivemos e morreremos ambivalentes e cultivando uma busca que sempre se autocria a cada novo punhado de contatos humanos ou convites - hoje em dia, tecnológicos. 

Viver é estar em constante ambivalência. A diferença é seu equilíbrio e intensidade de se deixar levar para cada lado. 


Ambivalência

O amor hoje em dia resumido a um estado permanente de busca por uma satisfação efêmera e descartável, cujo, nos dá a falsa impressão de que se conseguimos facilmente nos dá a liberdade de sair dele facilmente. De que a quantidade nos blindaria a incapacidade de nos mostrarmos frágeis e incapazes de lidar com os 'altos e baixos' da satisfação. Tudo é para hoje, ontem e está atrasado. A sociedade do consumo é de consumistas, de produtos e de "amores líquidos" que nos fazem ter a falsa sensação do controle de nossas vidas. Contudo, é contraditório, porque diante de tantos contatos e relacionamentos (de curto-prazo) conseguimos nos construir e nos conhecer, ou, ao menos aceitar o jogo que a vida social impõe. 

A dinâmica de relações que vivemos hoje, nos impõe (princípio de ser aceito numa tribo) optar pela quantidade sempre alta de estímulos como parte integrante de nossa aceitação. E isto se torna nosso combustível operandi, para mantermos um ritmo competitivo em todas as dimensões sociais, familiares e trabalhistas.

Talvez estamos construindo "comboios de identidades" distantes de quem nós somos (ou não), mas mais próximos do mundo líquido de que vivemos. Irreversível? Provável, mas como lidar com a frivolidade da beleza em ter quantidade quando se é fácil tê-la, possuí-la e descartá-la, princípio básico do consumo? 


Ser consumidor é ser consumidor de artefatos que nos induzem a acreditar que eles criam (ou despertam) nossa, ou outras, identidades. Ser consumidor é entender que a lógica do que entendemos hoje como prazeroso e bonito e nobre, pode não ser amanhã. Contudo, a única coisa que fica a cada consumo é nossa lembrança, são nossas emoções. E são elas que formam e reforçam nossa identidade?

"Num mundo onde o despreendimento é praticado como uma estratégia comum da luta pelo poder e pela auto-afirmação, há poucos pontos firmes da vida, se é que há algum, cuja, permanência se possa prever com segurança. Assim, o "presente" não compromete o futuro...Todas essas notícias...atingem diretamente no coração o modo humano de "estar no mundo"...a essência da identidade - a resposta de "Quem sou eu?"...não pode ser constituída senão por referência aos vínculos que conectam o eu a outras pessoas...Precisamos de relacionamento, e de relacionamentos em que possamos servir para alguma coisa, relacionamentos aos quais possamos referir-nos no intuito de definirmos a nós mesmos."

Solução?
Equalizar nossas expectativas de valor e de relacionamento humano seria um "caminho do meio" de lidarmos com esta proliferação de possíveis identidades que conseguimos criar no mundo de hoje. Se desligar não parece uma solução, mas entender como nos comportamos a cada relação, a cada compra, a cada gesto e a cada pré-concepção e pós-atitude nos daria ganhos importantes para lidar com a ambivalência, de forma mais parcimoniosa. 

Porém, o consumo não cessará, então uma mudança pro EU se torna mais importante e mais conflituosa, porém com ganhos a longo-prazo para todos. O que nos falta? A vontade e a capacidade de nos entender neste mundo líquido de 'esconde-esconde' que vivemos em toda relação pessoal, social e comercial que vivemos hoje em dia. O medo de nos confrontar com o erro de nós mesmos e nossas atitudes perante o outro, nos impede de ver quem nó somos realmente e isto constrói a qualidade, a percepção e a expectativa a cada ato, a cada decisão de um líder, a cada gerência de crise, a cada decisão de compra e consumo e, a cada dinâmica de relação e seus efeitos. 

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